| Abstract: | As temáticas de gênero e sexualidade, e sobretudo sua inclusão em políticas educacionais e currículos escolares, vêm sendo sistematicamente atacadas sob o sintagma de “ideologia de gênero”, em campanha empreendida por setores religiosos que questionam ativamente o desenvolvimento de compreensões de gênero que extrapolam o binarismo masculino/feminino. Nesse trabalho, indagamos os sentidos dessa campanha no Brasil no campo da educação, a partir da investigação e análise de discursos proferidos por lideranças religiosas da Igreja Católica e Assembleia de Deus, acessíveis em meio digital, entre os anos de 2015 e 2018. Propomos nossa análise dessa construção discursiva através de três eixos principais: o questionamento aos estudos de gênero; a regulação sobre a família, vida privada e sexualidade; e a denúncia moral que convoca à participação política. Buscamos, ainda, localizar o combate à “ideologia de gênero” no contexto de aprofundamento da exploração capitalista no Brasil. A partir dessa abordagem, identificamos nas discussões teóricas acerca da função social da educação e nas conceituações feministas sobre patriarcado, ferramentas para a compreensão do discurso religioso. Observamos, nesse fenômeno, a defesa de noções cristalizadas e hierárquicas de gênero e família, e a predominância de uma compreensão privada de educação, expressão ideológica da relação entre exploração e opressão que caracteriza a forma capitalista da dominação patriarcal.
Discussions about gender and sexuality, especially about their inclusion in educational policies and school curriculum, have been systematically accused of “gender ideology” by religious campaigns that impede gender to be seen beyond the male/female binarism. In this project, we aimed to study the influence of these campaigns in Brazil, specially in the education field. We investigated and analyzed discourses by religious leaders of the Catholic and Assembleia de Deus churches obtained from digital media between 2015 and 2018. We propose the analysis of this discursive construction to be done through three main branches: the questioning of gender studies; the control over the family, private life, and sexuality; and the moral accusation that summons political activity. Furthermore, we attempted to align the combat on “gender ideology” to a context of increasing capitalist exploitation in Brazil. In our approach, we highlight the debate on the social function of education and the feminist elaborations on the concept of patriarchy as useful tools to understand the religious discourse. We observed, in this phenomenon, the defense of crystalized and hierarchical notions of gender and family, and the predominance of a private view of education, which we identify as ideological expression of the relation between exploitation and oppression that distinguishes the capitalist form of the patriarchal dominance. |
