O corpo-arte em devir: a performance artística como contradispositivo filosófico de controle dos corpos

Abstract

Neste estudo, fundamentamos nossa análise a partir da premissa de que a performance artística é contrária à necropolitica e a biopolítica que, por sua vez, querem disciplinar os corpos, já que a performance de arte produziria corpos indisciplinados. Ou seja, por meio da performance artística se poderia produzir micropolíticas ou algo em torno da criação de um corpo sem órgãos (CsO), como proposto por Antonin Artaud em sua última performance, intitulada Pour en finir avec le jugement de Dieu (1947) (e melhor desenvolvido posteriormente por Gilles Deleuze e Félix Guattari), como veremos em nosso trabalho. Entre os objetivos dessa pesquisa está o de compreender os processos de subjetivação contemporâneos e as lutas contra as formas sistemáticas de domínio e disciplina dos corpos. Visa-se a observar se a experimentação artística pode gerar um corpo-devir, que se traduz por um acontecimento capaz de aumentar a potência de agir dos corpos e criar linhas de fuga de libertação. Por fim, busca-se responder à questão se haveria algo nas experimentações artísticas que poderia fazer emergir um corpo-devir, isto é, um acontecimento gerado a partir do encontro e da disruptura de corpos, capaz de aumentar sua potência de ação e como isso pode operar uma abertura inesperada na cultura e na arte, servindo como uma forma de resistência filosófica à política de controle dos corpos (biopolítica e necropolítica).

In this study, we base our analysis on the premise that artistic performance stands in opposition to necropolitics and biopolitics, which, in turn, seek to discipline bodies, since artistic performance is seen as yielding undisciplined bodies. In other words, through artistic performance, one could potentially engender micropolitics or something in the vicinity of the creation of a body without organs (BwO), as proposed by Antonin Artaud in his final performance, titled "Pour en finir avec le jugement de Dieu" (1947) (and further elaborated upon by Gilles Deleuze and Félix Guattari), as we will explore in our study. Among the objectives of this research, we seek to comprehend the contemporary processes of subjectivization and the struggles against the systematic forms of domination and body discipline. The aim is to ascertain if artistic experimentation can give rise to a becoming-body, which translates into an event capable of augmenting the power to act of bodies and forging escape routes to liberation. Finally, we seek to address the question of whether there is something within artistic experiments that could bring forth a becoming-body, i.e., an event generated from the encounter and disruption of bodies, capable of increasing their power to act; and how this event can operate an unforeseen opening in culture and art, serving as a form of philosophical resistance to the politics of body control (biopolitics and necropolitics).