Isolamento social: convívio reduzido no comportamento alimentar

Abstract

As escolhas alimentares das pessoas dependem de vários fatores. Histórico de vida, influências, ideais, fatores pessoais, recursos e contexto social são alguns deles. Dentre os citados, a influência social pode acontecer por comparação de consumo com o padrão alimentar de outros. Quando a convivência social precisa ser reduzida, estes comparativos se tornam escassos e outros fatores começam a se tornar mais evidentes. O comportamento de consumo alimentar se torna mais consciente, independente da saudabilidade da dieta. Com a declaração de pandemia global no ano de 2020 e a consequente necessidade de isolamento, o presente estudo teve como propósito compreender as escolhas alimentares das pessoas no contexto de redução do convívio social. Identificou-se a oportunidade teórica de desenvolver as perspectivas relativas à temática da alimentação, incorporando o comportamento social restrito às nuances do comportamento de consumo alimentar. Por se tratar de um contexto global sem precedentes, optou-se pelo método qualitativo de pesquisa, de caráter exploratório; foram realizadas entrevistas em profundidade com o uso de roteiro semiestruturado, com doze participantes que tiveram restrição de convívio social por no mínimo três meses, no ano de 2020. Os dados coletados foram analisados sob a técnica de análise de conteúdo.Observou-se que, com restrição de convívio social, (i) houve alteração na dinâmica do planejamento alimentar das pessoas; (ii) pessoas que possuíam maior atenção alimentar com convívio social regular flexibilizaram seu comportamento; (iii) pessoas que mencionavam não possuir tempo para focar na melhoria de sua alimentação começaram a praticá-la; (iv) todos os entrevistados se tornaram mais conscientes de seu consumo alimentar; (v) houve redução no consumo de vegetais e legumes pelo dispêndio no preparo e a falta de conveniência; (vi) houve aumento no consumo de alimentos (por pedidos de comida) e bebidas indulgentes para lidar com as emoções percebidas na pandemia, como a ansiedade; (vii) o aumento da ansiedade foi motivado pela necessidade de isolamento social, as notícias de disseminação viral e o aumento da carga horária de trabalho, por conta da falta de organização das empresas que praticaram Home Office. Neste cenário foram percebidas as diversas mudanças no comportamento alimentar das pessoas em decorrência das novas dinâmicas de contexto social e redução de convívio pelo advento da pandemia de Coronavírus. Considerando a relevância acadêmica e gerencial da pesquisa, pela apresentação de contexto de isolamento social sem precedentes, explicitou-se suas contribuições nestes âmbitos, assim como suas limitações e apontamento de oportunidades de pesquisas futuras na temática alimentar.

People's food choices depend on several factors. Life history, influences, ideals, personal factors, resources and social context are some of them. Among those mentioned, social influence can happen by comparing consumption with the dietary pattern of others. When social coexistence needs to be reduced, these comparisons become scarce and other factors start to become more evident. Food consumption behavior becomes more conscious, regardless of the healthiness of the diet. With the declaration of a global pandemic in 2020 and the consequent need for social isolation, the present study aimed to understand people's food choices in the context of reduced social life. The theoretical opportunity was identified to develop perspectives on the theme of food, incorporating social behavior restricted to the nuances of eating behavior. As this is an unprecedented global context, a qualitative research method was applied, with a exploratory bias; In-depth interviews were conducted using a semi-structured script, with twelve participants who had restricted social contact for at least three months, in 2020. The collected data were analyzed using the content analysis technique.It was observed that, with restricted social interaction, (i) there was a change in the dynamics of people's food planning; (ii) people who had more food attention during regular social life period made their behavior more flexible; (iii) people who mentioned that they did not have time to focus on improving their diet started to practice it; (iv) all respondents became more aware of their food consumption; (v) there was a reduction in the consumption of vegetables due to the expense of preparation and the lack of convenience; (vi) there was an increase in the consumption of food (by deliveries) and indulgent alcoholic beverages to deal with emotions perceived in the pandemic, such as anxiety; (vii) the increase in anxiety was motivated by the need for social isolation, the news of viral dissemination and the increase in the workload, due to the lack of organization of the companies that practiced Home Office. In this scenario, the various changes in people's eating behavior were perceived as a result of the new dynamics of the social context and reduced coexistence due to the advent of the Coronavirus pandemic. Considering the academic and managerial relevance of the research, by presenting an unprecedented social isolation context, its contributions in these areas were explained, as well as its limitations and pointing out opportunities for future research on the food theme.