| Abstract: | A crescente responsabilidade dos militares brasileiros no cuidado às populações atingidas por catástrofes consolida a necessidade de estender o olhar a esses profissionais. Este estudo objetivou investigar, a partir das complexidades presentes nessa modalidade de trabalho, elementos relativos ao traumático e seus desdobramentos no sujeito psíquico. Esta Tese está organizada em três Seções, sendo uma teórica e duas empíricas. A primeira Seção, intitulada Narrativas do excesso: a potencialidade da palavra em Psicanálise, problematizou a função da palavra no necessário trabalho psíquico de ligação pulsional. Na revisão sobre o processo de constituição do aparelho psíquico e as condições de representabilidade, foram abordadas as possibilidades de metabolização de excessivas intensidades psíquicas. Frente ao domínio devastador da pulsão de morte, tem-se o impasse de (im)possíveis narrativas. A palavra, tanto em seu potencial enunciador como elaborativo, se mostra como uma via possível de contenção e historização do vivido. A posição ativa do sujeito enunciador possibilita (re)compor enlaces e produzir caminhos associativos que rompem com o predomínio tanático da repetição. As experiências narrativas se transformam, portanto, em resistência vital frente ao danoso da irrepresentabilidade pulsional. A segunda Seção, nomeada Do protocolo ao imprevisto: o sujeito de afetação no exercício do cuidado em catástrofes, investigou narrativas de dez militares da área da saúde, a fim de desvelar os sentidos e o efeito de suas experiências laborais. Foram explorados elementos relacionados a singularidade do profissional do cuidado e às condições psíquicas de tramitação do vivido no trabalho marcado pela devastação.A partir das entrevistas, analisadas por meio da Análise lnterpretativa (Erikson, 1997), foram construídas três Asserções: Demandas à afetação no trabalho frente ao (im)previsto em catástrofes; A inscrição do Outro no Eu: o paradoxo do estrangeiro no exercício do cuidado; Os impasses institucionais frente ao a posteriori: desmentido e legitimação. As entrevistas oportunizaram acessar imprevisíveis tensionamentos decorrentes de intervenções orientadas pelo cuidado. Os impasses identificados na efetiva prática de cuidado ao outro e a si próprio aludem a barreiras institucionais que impedem e/ou dificultam os trâmites afetivos decorrentes da ação profissional. Na terceira Seção, denominada O a posteriori nos tempos da pesquisa em Psicanálise: narrativa e hospitalidade, foram trabalhados os conteúdos que se construíram no desenvolvimento de uma pesquisa narrativa (Creswell, 2014) frente a oferta de acolhimento a narrativa do sujeito sobre si. Nas entrevistas apareceram os significados da experiência dos militares no contexto da tragédia, e, também, no contexto da pesquisa. A produção de conhecimento deu-se no a posteriori de dois tempos: na narrativa do participante sobre o já vivido e nas condições de hospitalidade a essa narrativa. O encontro a posteriori entre narrativa e hospitalidade permitiu o acesso a singulares vicissitudes do trabalho em catástrofes e desvelou novas facetas do fenômeno produzidas na e pela pesquisa. A Psicanálise deu sustentação teórica às modalidades investigativas que orientaram as três Seções desta Tese. Foi possível, nesse marco epistemológico, dar primazia aos elementos próprios a subjetividade quando um cenário de devastação real pode, perigosamente, fazer sucumbir o olhar ao sujeito trabalhador.
The growing responsibility of Brazilian soldiers regarding care of people struck by catastrophes reinforces the need to extend attention to these professionals. This study aimed to investigate, from the ramifications which exist in this modality of work, elements related to trauma and their deployment on subjects. This thesis is organized in three Sections: a theoretical and two empirical ones. The first Section, Narratives of excess: the potential of words in Psychoanalysis, discusses the function of words in the necessary drive connection of psychic work. On reviewing the formation of Psychic apparatus and conditions of representability, we have approached the possibilities of metabolism of exceeding psychic intensities. Before the devastating death drive domain, there is the obstacle of (im)possible narratives. Words, with their articulation and elaboration potentials, are perceived as a possible way to restrain and to historicize lived contents. The subjectsº active position makes it possible to break with Thanatos predominance of repetition. The narrative experiences transform, therefore, into vital resistance before what is harmful regarding drive unrepresentativeness. The second Section, From protocol to the unexpected: subject of affection: exercising care during catastrophes, investigates the narratives of ten health care soldiers in order to unveil the meanings and the effects of their working experiences. We have explored elements related to health care professionals” particularities and psychic conditions of processing what has been experienced in a job marked by devastation. From the interviews, analyzed with Interpretative Analysis (Erikson, 1997), we have built three assertions: Demands of affection before de (un)predictable in catastrophes; The inscription of Others into the Self: the foreigner paradox in care practice; Institutional obstacles facing ‘a posteriori’: disavowal and legitimation.The interviews allowed us to access unpredictable tensioning following interventions guided by care. The identified obstacles on others’ and self’s effective care practice have alluded to institutional barriers which impede and/or make it difficult for the affective processing which usually follows professional action. On the third Section, The 'a posteriori' in times of research in Psychoanalysis: narrative and hospitality, we have worked with contents built along the development of a narrative research (Creswell, 2014) before offering protection to the subjects’ narratives about themselves. In the interviews, it was shown that soldiers experience meanings in both tragedy and research contexts. Knowledge production was ‘a posteriori’: in participants’ narratives about what has been already experienced, and in hospitality conditions to these narratives. This “a posteriori” convergence of narrative and hospitality opened access to particular changes of working in catastrophes, and unveiled new phenomenon facets produced in and by research. Psychoanalysis has given theoretical support to the investigative modalities which guided the three Sections of this Thesis. It was possible, in this epistemological mark, to give priority to elements of subjectivity itself when a real devastation setting can, dangerously, make the attention to working professionals succumb. |
